quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Contra a Ignorância!



Mais uma  vez retorno ao blog. Nesse momento, acho fundamental me expressar de forma mais detalhada sobre algumas coisas que tenho refletido e penso em diálogo com a realidade que nos é apresentada.

Como não poderia deixar de ser, a primeira reflexão é sobre a ignorância.

Aqui trato a ignorância como aquilo que ignoramos, que não conhecemos e que, por isso mesmo, quando nos deparamos com esse "desconhecido" (para nós, é claro) devemos buscar informações, confrontar versões sobre aquilo se de fato nos interessamos por isso.

Mas é de se estranhar que vivemos tempos em que não procuramos saber sobre o que nós queremos opinar e ignoramos. Se instaurou uma lógica perversa de que tudo é apenas uma questão de opinião. Portanto, a opinião não precisa estar respaldada em algum estudo próprio ou em leituras de estudos de pessoas que dedicam parte de suas vidas sobre determinado assunto. Vejo esse tipo de posicionamento entre intelectuais, acadêmicos, gente de esquerda e gente de direita. Tudo se resume à fé. E quando falo de fé não estou me referindo àquela que está relacionada às religiões e que, de fato, estão mais associadas à nossa forma de nos religarmos às divindades e/ou espiritualidades e por isso mesmo está no plano do individual. Estou falando de uma fé cega em seu próprio ponto de vista que não precisa ter nenhuma lógica e nem minimamente dialogar com leituras específicas sobre o assunto.

Está certo que às vezes o que é produzido pela academia não possui uma linguagem acessível, mas também não limito o acesso ao conhecimento à academia. Se produz conhecimento em diversos outros espaços, com linguagens diferentes, em muitos casos embasado na experiência de vida de pessoas ou grupos, mas nem isso tem sido respeitado.

Quando um candidato à presidência diz que vai gerar emprego e renda para a população com o objetivo de promover uma melhor qualidade de vida, de nada vale se ele não diz como, se ele não diz o como. No Brasil vivemos uma realidade que a todos olhamos para fora no sentido do que devemos ser, mas não olhamos nossos problemas estruturais e históricos. Não é possível uma sociedade de consumo no Brasil sem romper com o agronegócio (que não gera emprego em grande escala, visto seu processo de automação, robotização) que se organiza voltado para o mercado externo. A agricultura familiar é responsável por cerca de 70% da produção de alimentos que chega às nossas mesas segundo dados do próprio Ministério do Desenvolvimento Agrário (http://www.mda.gov.br/sitemda/noticias/brasil-70-dos-alimentos-que-v%C3%A3o-%C3%A0-mesa-dos-brasileiros-s%C3%A3o-da-agricultura-familiar), mas o investimento e as propostas da maioria dos candidatos aponta para o aumento de investimento no agronegócio. Nem tampouco é possível se desenvolver economicamente a partir do capital financeiro, rentista, que não precisa de circulação de mercadoria para garantir a obtenção de lucros e dividendos e não está acessível à todos e todas. Portanto, somente se confrontando com esses e outros setores é possível transformar a economia brasileira em uma economia capitalista.

E é aqui que entra mais um ponto: isso não é possível de ser modificado pela via eleitoral. Apesar de todos os casos de escândalos envolvendo o chamado "Centrão", eles continuaram compondo a maioria na Câmara após as eleições e continuaram destruindo nossa economia e massacrando nosso povo para a garantia de seus privilégios.

E é esse Centrão que já declarou apoio ao seu ilustre (e não menos corrupto) membro Jair Bolsonaro. E por falar no tinhoso, tem sido uma prática de seu eleitorado se posicionar dessa forma. Não é possível se estabelecer um diálogo a partir de informações que seus eleitores ignoram. Já ouvi de tudo: de que tudo era fake news até (de um professor universitário) que os livros estão errados porque os livros são apenas as opiniões de quem os escreve. Esqueceu-se do acúmulo de séculos de metodologias de pesquisas científicas em todas as áreas, do conhecimento acumulado nesse período (mesmo que não concordemos com tudo e muita coisa ruim também tenha sido produzido, não significa que não existam produções), esqueceu-se de fatos.

É comum se negar a ditadura. Diante de uma matéria do El País, em que o historiador Daniel Arão nega a interpretação que o juíz Dias Toffoli dá a sua tese sobre a ditadura (Toffoli, a partir da leitura de Arão, havia dito que preferia o termo "Movimento de 64" a Golpe de 1964) diversos historiadores também negaram o ocorrido. Se conhecessem direito a História, poderiam entender que eles são o que negam ser. Não é possível negar os fatos históricos fartamente documentados, mas interpretá-los sim. E interpretar significa o seguinte: A pessoas pode dizer que concorda com a ditadura, com a tortura, com o assassinato de opositores, mas não dizer que não houve ditadura. Você pode dizer que acha que homens e mulheres devem ter um único comportamento padronizado, ou seja, que você é conservador e retrógrado, mas não falar em "ideologia de gênero" sem compreender o que são os estudos de relações de gênero e sua produção. Você pode dizer que não deve nada porque não escravizou ninguém e se assumir como racista, mas não negar que o Estado brasileiro deve uma reparação histórica diante de seus erros que ainda são vistos na sociedade de hoje. O racismo não é invenção minha nem da esquerda, nem tampouco a homofobia, o machismo, o feminicídio e nem tampouco as classes sociais.

Portanto, acho que devemos parar e pensar sobre isso. Eu acredito que podemos minimamente nos informar sobre temas diversos, não é uma coisa que deve ser exclusividade de estudantes, professores e um pequeno grupo de intelectuais. Acredito que saber das coisas, se informar e contrainformar e formular sobre diversos temas é necessário para se viver uma cidadania plena e para romper com as correntes que ainda nos prendem à caverna, lugar de onde apenas vemos imagens desfiguradas e acreditamos que representam a realidade apenas porque não vemos além do que nos é permitido.

Estudemos mais, valorizemos os estudos, a leitura e o pensamento livre...

Socialismo contra a barbárie!!

quarta-feira, 13 de maio de 2015

13 de maio



O dia é visto, para a grande mídia e a história tradicional, como um dia de libertação. Para diversos setores dos movimentos sociais não significa nada... De fato, esse não foi o dia da libertação dos negros no Brasil, o que se comprova pelo extermínio da juventude negra no país, nas médias salariais, no racismo, ainda presente e naturalizado em nossa sociedade.

Mas penso que este deveria ser, exatamente, um dia de reflexão dos lutadores e lutadoras do nosso país. Esse deveria ser o dia em que os movimentos sociais deveriam ir às ruas denunciar que apenas houve uma mudança no tipo de escravização dos ex-escravizados, uma escravização que se reflete nas condições precárias de trabalho, uma escravização que se repete no tratamento desigual dado aos negros nos atendimentos em setores públicos e privados, de acesso à educação que o represente e que conte sua história e não uma história eurocentrada, como vemos em escolas e universidades.

É um dia para refletirmos como a ideologia dominante, branca, patriarca, machista, racista e classista vem ganhando cada vez mais espaço e se consolidando no senso comum. Como o racismo, ainda presente e violento, está presente nas ações de Estado, principalmente quando falamos da violência estatal exercida pelas polícias de todo Brasil. Pensar que projetos de leis discutidas hoje no Congresso, como a redução da maioridade penal, mudanças nas leis previdenciárias, dentre outras tantas, têm um impacto ainda mais avassalador quando para a população negra de nosso país.

Defendo o dia 13 de maio para que ele esteja presente em nossa memória, para que aquele dia do ano de 1888 seja lembrado como o dia em que a elite brasileira iniciou a construção sistematizada das periferias das grandes cidades, locais destinados aos ex-escravizados e que sofrem, como no último domingo (10 de maio de 2015), em Salvador, com as condições precárias de vida. Não é a toa que, mais de cem anos depois da Lei Áurea, pouco tenha mudado.

Dói lembrar dessas coisas, mas que a nossa dor, a dor de todos os oprimidos, se transforme em vontade de transformação, em luta, em unidade para a construção de uma nova sociedade...

Deixo uma música / poesia para lembrar esse dia... Para reflexão...

Angola Congo Benguela
Monjolo Cabinda Mina
Quiloa Rebolo
Aqui onde estão os homens
Há um grande leilão
Dizem que nele há
Um princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados em carros de boi
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Angola Congo Benguela
Monjolo Cabinda Mina
Quiloa Rebolo
Aqui onde estão os homens
Dum lado cana de açúcar
Do outro lado o cafezal
Ao centro senhores sentados
Vendo a colheita do algodão tão branco
Sendo colhidos por mãos negras
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Zumbi é senhor das guerras
È senhor das demandas
Quando Zumbi chega é Zumbi
É quem manda
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

(Fonte: http://letras.mus.br/jorge-ben-jor/86395/)

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Catástrofe e mortes na periferia de Salvador*


Já são contabilizados 15 (quinze) mortos após os temporais que assolam a capital baiana desde a madrugada de domingo (26) até o dia de ontem (28).

Após quase um mês em que houve chuvas fortes e caos na cidade de Salvador, a tragédia se repete. 

Toda cidade ficou em baixo de água, porém, desde a última chuva, quase nenhuma providência foi tomada pelos poderes públicos.

Governos estadual (PT) e municipal (DEM) fecham os olhos e não tomam nenhuma providência. As encostas dos morros continuam vulneráveis e os moradores / trabalhadores da periferia são as principais vítimas.

Uma das providências tomadas após a última chuva foram as dragagens dos Rios das Tripas e o Rio Vermelho que cortam bairros nobres da cidade, na região do Iguatemi e Rio Vermelho. Porém, na periferia, nada foi feito. Mesmo com as ações nesses rios, eles transbordaram.

No bairro de Bom Juá e em outras localidades da periferia de Salvador, os córregos transbordaram. A Defesa Civil não atende aos chamados e apenas quando ocorre o pior, desmoronamentos e deslizamentos de terras.

A situação mais grave foi na comunidade de Barro Branco, nas proximidades da avenida San Martin, que passa por um vale que corta os bairros de São Caetano, Retiro e Liberdade. No deslizamento de terra que atingiu o local já são contabilizados 08 (oito) mortos e uma jovem desaparecida. Os trabalhos de resgaste se iniciaram na madrugada de domingo para a segunda, feito por moradores e garis, antes mesmo da chegada dos Bombeiros. A Defesa Civil só chegou ao local quando o desastre ganhou notoriedade.

Enquanto isso, o prefeito da cidade, ACM Neto (DEM) contabilizava, apenas, 03 (três) mortos, quando o número já eram 07 (Sete). O governo do estado se dispôs a pagar pousadas para alguns dos desabrigados que já chegam ao número de 500 (quinhentos), mas moradores das zonas atingidas afirmam que a ajuda tem vindo para poucos (alguns estão abrigados em escolas municipais).

Para completar a tragédia, nos bairros periféricos os alagamentos foram agravados pelas ações da prefeitura que, na ambição de maquiar a cidade, mandou asfaltar ruas sem considerar a existência de bueiros. As tampas foram vedadas pelo asfalto, impossibilitando que, no momento do alagamento, a retirassem.

Nesses momentos percebemos para quem os governantes governam. Seja PT ou DEM a preocupação é sempre agradar a elite. Mas essas tragédias, apesar da dor infligida à toda população, devem servir de lição para que nós, trabalhadores e trabalhadoras, percebamos que não é uma simples maquiagem que solucionará nossos problemas cotidianos. As vítimas desse desastre têm cor e classe.

Socialismo ou barbárie!

*Texto publicado no Tribuna Aberta do jornal virtual Esquerda Diário. (http://www.esquerdadiario.com.br/Catastrofe-e-mortes-na-periferia-de-Salvador)

Indico como outra leitura sobre as tragédias, o seguinte artigo: O Pior Temporal (http://www.passapalavra.info/2015/04/103968)

Marighella vive!


Após muito tempo sem publicar nada (mas sem deixar de pensar no mundo que me cerca), trago essa importante contribuição do revolucionário baiano Carlos Marighella. Nesse texto ele trata sobre como deve ser dado a luta interna entre os diversos pontos de vistas dentro de uma organização revolucionária. Amplio o debate para as relações existentes entre a esquerda revolucionária brasileira. Vivemos um momento de total fragmentação das organizações. Algumas com desvios do tipo "cretinismo parlamentar" (como afirmava Lênin), mas, em geral, sofrem de culto à personalidade, auto-construção acima da construção da luta da classe trabalhadora, distanciamento da luta concreta e capacidade orgânica e ideológica de disputar os rumos da luta de classe. Aliás, falar em ideologia se tornou uma heresia. Ao invés dessa construção, as organizações que poderiam unir forças, nesse momento de fragilidade do movimento revolucionário internacional e vitória e assentamento da ideologia burguesa em todos os setores da classe trabalhadora, nos preocupamos em criticar uns aos outros e não temos a capacidade de construir uma unidade real para avançarmos no sentido da revolução.

Nós, revolucionários, não podemos nunca nos esquecer que o caminho tem que ser da unidade. A burguesia se une sempre que seus interesses são ameaçados. As manifestações conservadoras desse ano demonstraram como eles sabem lidar com a diversidade muito melhor que nós, que jogamos para debaixo do tapete nossa capacidade de crítica e auto-crítica e substituímos o projeto de emancipação da classe trabalhadora por um projeto de emancipação para classe trabalhadora, muitas vezes desconsiderando que o fundamental em uma revolução socialista são os trabalhadores e as trabalhadoras.

O texto de Marighella se mostra contemporâneo e se refere à uma organização que passava por um processo de burocratização e centralização de grande envergadura. Ainda assim, a sensibilidade revolucionária do autor nos faz refletir sobre o método revolucionário de se realizar disputas, lutas internas e entre companheiros e companheiras. Que nos sirva de lição...

Luta Interna e Dialética

Carlos Marighella

15 de Outubro de 1966


Fonte: Tribuna de Debates - VI Congresso PCB. Artigo assinado com o pseudonimo: C. Menezes
Transcrição: Alberto Santos
HTML:
 Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


Todos os partidos do proletariado que foram adiante e obtiveram vitórias — inclusive chegando ao poder — passaram por um processo mais ou menos agudo do luta interna. Isto aconteceu na URSS, na China, em Cuba e outros países.
A experiência histórica brasileira mostra — por sua vez — que todos os passos para a frente em questões de orientação ou de correção da erros, na vanguarda do proletariado, sempre foram acompanhados de intensa luta interna.
Foi o que se deu em 1942-1945 (período do Estado Novo) e em 1956-1958 (período da discussão do culto à personalidade). É o que se dá agora, no período da derrota imposta ao nosso povo pelo golpe militar-fascista de 1º de abril de 1964.
Que é a luta interna, como e por que ocorre no partido marxista do proletariado?
A luta interna é o choque que sobrevém no seio do partido, quando se confrontam ideias contrárias, relacionadas com a prática na atividade dos militantes.
A dialética marxista incumbe-se de explicar o mecanismo da luta interna e sua natureza intrínseca, isto é, sua natureza própria, peculiar.
A dialética marxista mostra que, no mundo, tudo é inter-relacionado, tudo se desenvolve, quer se trate da natureza, da sociedade humana ou do pensamento. A vanguarda do proletariado brasileiro, que é um organismo social vivo, representando interesses políticos e ideológicos de uma determinada classe, não foge aos princípios da dialética marxista. O que se passa na vanguarda de nosso proletariado obedece às leis fundamentais da dialética marxista. A ideologia do partido é uma ideologia determinada, é a ideologia do proletariado. Sobre ela, porém, exerce uma enorme influência a ideologia burguesa, vinda do exterior.
O choque é inevitável, sobretudo nos momentos de derrota do proletariado, quando a ideologia burguesa aproveita as brechas ocorridas no seio da vanguarda e penetra mais fundo.
A derrota do partido marxista do proletariado é — via de regra — consequência de erros que se localizam na incompleta acumulação ideológica no seio da vanguarda ou na influência demasiado acentuada da ideologia burguesa. Outras causas de erros podem subsistir. Mas o fundamental consiste em causas ideológicas,
Devido, pois, ao papel ativo das ideias na sociedade e no partido marxista do proletariado, a luta interna deve obrigatoriamente ser tratada como luta ideológica, não podendo ser levada a efeito, com resultados positivos, se não obedecer às leis da dialética materialista, aos princípios da filosofia marxista.
Sob o ponto-de-vista dos princípios, o primeiro cuidado na luta interna é não tratá-la como luta entre inimigos.
O partido em seu conjunto luta contra os inimigos de classe. Sua finalidade é assegurar a direção da luta de classes dos trabalhadores — e como consequência a direção da luta de todo o povo pela sua libertação, a paz, o progresso, o socialismo.
A luta interna é chamada luta interna, no partido marxista do proletariado, exatamente para diferençá-la da luta que ele — o partido marxista — trava e dirige em nome dos interesses políticos e ideológicos do proletariado e de todo o povo, contra os inimigos da classe operária e da nação brasileira, contra o imperialismo, contra o latifúndio, contra as classes exploradoras, contra tudo o que freia o progresso, a marcha para a frente.
A luta interna não é um reflexo da luta de classes nem a própria luta de classes no interior do partido.
No interior do partido não há tal, porque o partido não é uma organização composta de classes opostas.
Os membros do partido lutam pelos objetivos de classe do proletariado e esforçam-se por [para] que sua consciência seja uma só — a consciência do proletariado.
Os conflitos que surgem no partido não provém de choques de classes diferentes, atuando internamente, mas de influências ideológicas das classes que exteriormente são hostis ao desenvolvimento da consciência de classe do proletariado e de seu partido.
Os que discordam no interior do partido não são inimigos de classe. As discordâncias são uma contingência dialética do desenvolvimento da consciência e derem ser toleradas e admitidas normalmente.
Na luta interna não se trata de liquidar quadros. Não se trata de aplicar medidas de coação.
Quando a luta interna é encarada como luta de classes no interior do partido, estamos em face de um desvio, de um desvirtuamento do marxismo e sua filosofia.
Ter a luta interna na conta de luta de classes (ou de uma forma de luta de classes) é um procedimento que estimula a prepotência, favorece o clima do culto à personalidade, fomenta o poderio individual ou a luta de grupos.
É igualmente errôneo considerar a luta interna como luta desordenada, visando a desrespeitar o centralismo democrático, principio diretor da estrutura e funcionamento do partido, onde a unidade e a disciplina permanecem necessária e obrigatoriamente como fundamentos partidários.
Difundir a intolerância, exercer qualquer tipo da coação, liquidar quadros, fracionar, abalar a unidade e a disciplina, são métodos condenáveis e condenados na luta interna.
Não sendo uma luta entre inimigos, a luta interna tem que obedecer necessariamente a um método capaz de fazer avançar o partido marxista do proletariado, sem destruí-lo internamente e sem debilitar t sua unidade ou enfraquecê-lo perante o inimigo de classe.
Dentro do partido não se pode evitar a luta interna. Os que pensam impedir ou deter a luta interna (ou diante dela se omitem) desconhecem a inexorabilidade das leis que presidem ao desenvolvimento social.
A luta Interna, como qualquer outra luta que diz respeito a relações entre os homens, não é desencadeada por fôrças cegas, espontâneas. Ao contrário, a luta interna, assim como qualquer outra lei objetiva do desenvolvimento social, manifesta-se através da ação dos indivíduos. Estes, a princípio, podem ser surpreendidos com a manifestação das leis objetivas. Ou podem ser levados a exageros e excessos ao interpretá-las, ou à omissão.
Todas as leis objetivas, porém, são cognoscíveis, podem vir a ser conhecidas, e os homens podem utilizá-las ou vir a utilizá-las corretamente em sua atividade prática.
Assim, uma vez surgida, é através da ação dos homens, é através da atividade a da consciência dos membros da vanguarda que a luta interna será realizada. Os homens são seres conscientes, que propõem determinados objetivas e se esforçam por alcançá-los.
O marxismo é o que pode haver de mais oposto e contrário ao espontaneíamo e à renúncia ao domínio das leis sociais.
Em vez de deixar que as leis objetivas se manifestem sem dominá-las, o materialismo histórico procura conhecê-las e utilizá-las como guia em favor da ação do proletariado.
Daí por que só há um método correto a ser aplicado na luta interna, um único método capaz de fazer avançar 0 partido no curso de tal luta, e este é o método dialético-materialista.
Segundo tal ponto-de-vista, a luta interna constitui a um só tempo uma luta ideológica e teórica.
A teoria por si só não pode modificar a realidade, não tem condições para fazê-lo. Mas sem a teoria é impossível conhecer e dominar as leis objetivas, uma vez que o conhecimento não é mais do que a atividade teórica do homem.
Como luta teórico-ideológica, a luta interna exige que se saiba generalizar a experiência da realidade brasileira, a experiência concreta de nossa revolução e de nosso partido. E isto não se consegue sem o manejo da teoria.
O objetivo da lula interna — no seu aspecto teórico-ideológica — ou como luta teórico-ideológica — é conseguir chegar a mudanças na cabeça dos homens, na consciência dos militantes da vanguarda.
Assim se podem obter transformações internas (do ponto-de-vista ideológico), transformações que facilitem melhor traçado e execução da linha política. Tudo está em obter um avanço na acumulação ideológica, em melhorar a condição ideológica do partido em favor das concepções proletárias.
A luta ideológica, aliás, ou a luta teórica-ideológica, não é uma luta abstrata. Ela só tem valor quando inler-relacionada com a luta política, levando-se em conta que, se as coisas não forem vistas sob o ângulo da ideologia de classe do proletariado, nada se conseguirá no terreno da política.
Por exemplo, sob o governo Goulart a linha política foi levada a uma derrota (a de 1º de abril) em consequência da falta das condições ideológicas. Ou seja — de nossa parte — a existência da profundas ilusões de classe na burguesia, ao lado de uma flagrante submissão à política do governo, então empenhado na luta pelas reformas de base.
Todos os Partidos a homens (teóricos ou práticos) que avançaram no caminho da revolução marxista, só o fizeram reformando sua ideologia no curso de lutas internas. Mesmo Marx e Engels — fundadores do socialismo científico — antes de se transformarem em marxistas, eram hegelianos de esquerda, e, em dado momento, feuerbachianos, como confessaram. Não teriam superado suas posições de democratas radicais, se não se colocassem sob o ângulo de visão do proletariado e não tivessem mudado de ideologia.
O caso de Cuba é outro exemplo. Ali, reformas ideológicas foram efetivadas no curso da luta interna, e à medida que se foi dando, na prática, o emprego da crítica e da autocrítica.
É por isso que a crítica a a autocrítica fazem parte obrigatória e indispensável do método aplicado na condução da luta interna. É necessário não esquecer — nesse caso — que o emprego da critica e autocrítica exige como ponto-de-partida fixar uma posição de classe (a posição de classe do proletariado), para o exame dos erros cometidos. Examinados esses erros — sob tal ponto-de-vista — não é difícil chegar à conclusão de que o fundamental na luta interna e no método de encaminhá-la é chegar a uma reforma da ideologia.
Como tal entende-se renunciar às posições ideológicas falsas e chegar às posições ideológicas inerentes à classe operária.
Quais são as posições falsas, quais as que correspondem aos interesses do proletariado?
A luta interna poda responder a estas questões — no caso brasileiro — quando se defrontam as ideias em torno da hegemonia da revolução da questão agrária, da aliança operário-camponesa, do problema do poder, da constituição da frente única, dos caminhos da revolução (pacifico ou armado), da tática eleitoral, das formas de luta, do papel do partido, de sua independência de classe ou do reboquismo ante a burguesia, e várias outras questões.

terça-feira, 10 de março de 2015

Atordoado permaneço atendo!

Diálogo entre a esquerda em pleno século XXI

João: - O que você acha da atual conjuntura econômica?
Maria: - Eu? Acho que estamos de mal a pior. A esquerda perdeu suas referências e agora, na política, todos parecem iguais...
João: - É mesmo... E parece que fica cada vez mais difícil um sentimento coletivo de classe...
Maria: - Mas acho que nunca houve. Se pensarmos direito, nós mulheres sempre fomos as principais vítimas da opressão de classe. Seguindo essa lógica, algo me diz que o problema são vocês, homens...
João: - Acho que você está enganada, Maria.,. Nós negros sempre fomos explorados. A base do desenvolvimento do próprio capitalismo está na exploração da mão de obra escrava, vinda da África...
Maria: - Mas, mesmo que faça esse recorte racial, se formos analisar a situação da mulher negra ela é muito pior a do homem negro...
João: - E quem é você para falar de mulheres negras se você é branca? Esse é um discurso que quer dividir nosso povo...
Maria: - Você que quer dividir as mulheres, com esse discurso racial do século XIX. Posso até admitir que exista racismo, mas essa mania de vocês de ficar defendendo a existência de raça...
João: - Você é uma racista...
Maria: - E você é um machista..
José: - Mas, gente, enquanto vocês ficam discutindo isso, o capitalismo avança, tanto na exploração e extermínio da população negra, quanto na exploração e violência contra as mulheres. O que nos unifica é o nosso estado de opressão que convergem no nosso lugar de classe... Não nos repartamos, nos unamos.
João e Maria: - Quem é você para falar sobre essas coisas? Seu misógino e racista comunista... Suas referências são masculinas e brancas... Seu opressor...

Enquanto, a burguesia no século XXI dialoga assim, com o tempo presente...