quarta-feira, 13 de maio de 2015

13 de maio



O dia é visto, para a grande mídia e a história tradicional, como um dia de libertação. Para diversos setores dos movimentos sociais não significa nada... De fato, esse não foi o dia da libertação dos negros no Brasil, o que se comprova pelo extermínio da juventude negra no país, nas médias salariais, no racismo, ainda presente e naturalizado em nossa sociedade.

Mas penso que este deveria ser, exatamente, um dia de reflexão dos lutadores e lutadoras do nosso país. Esse deveria ser o dia em que os movimentos sociais deveriam ir às ruas denunciar que apenas houve uma mudança no tipo de escravização dos ex-escravizados, uma escravização que se reflete nas condições precárias de trabalho, uma escravização que se repete no tratamento desigual dado aos negros nos atendimentos em setores públicos e privados, de acesso à educação que o represente e que conte sua história e não uma história eurocentrada, como vemos em escolas e universidades.

É um dia para refletirmos como a ideologia dominante, branca, patriarca, machista, racista e classista vem ganhando cada vez mais espaço e se consolidando no senso comum. Como o racismo, ainda presente e violento, está presente nas ações de Estado, principalmente quando falamos da violência estatal exercida pelas polícias de todo Brasil. Pensar que projetos de leis discutidas hoje no Congresso, como a redução da maioridade penal, mudanças nas leis previdenciárias, dentre outras tantas, têm um impacto ainda mais avassalador quando para a população negra de nosso país.

Defendo o dia 13 de maio para que ele esteja presente em nossa memória, para que aquele dia do ano de 1888 seja lembrado como o dia em que a elite brasileira iniciou a construção sistematizada das periferias das grandes cidades, locais destinados aos ex-escravizados e que sofrem, como no último domingo (10 de maio de 2015), em Salvador, com as condições precárias de vida. Não é a toa que, mais de cem anos depois da Lei Áurea, pouco tenha mudado.

Dói lembrar dessas coisas, mas que a nossa dor, a dor de todos os oprimidos, se transforme em vontade de transformação, em luta, em unidade para a construção de uma nova sociedade...

Deixo uma música / poesia para lembrar esse dia... Para reflexão...

Angola Congo Benguela
Monjolo Cabinda Mina
Quiloa Rebolo
Aqui onde estão os homens
Há um grande leilão
Dizem que nele há
Um princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados em carros de boi
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Angola Congo Benguela
Monjolo Cabinda Mina
Quiloa Rebolo
Aqui onde estão os homens
Dum lado cana de açúcar
Do outro lado o cafezal
Ao centro senhores sentados
Vendo a colheita do algodão tão branco
Sendo colhidos por mãos negras
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Zumbi é senhor das guerras
È senhor das demandas
Quando Zumbi chega é Zumbi
É quem manda
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

(Fonte: http://letras.mus.br/jorge-ben-jor/86395/)