quarta-feira, 13 de maio de 2015

13 de maio



O dia é visto, para a grande mídia e a história tradicional, como um dia de libertação. Para diversos setores dos movimentos sociais não significa nada... De fato, esse não foi o dia da libertação dos negros no Brasil, o que se comprova pelo extermínio da juventude negra no país, nas médias salariais, no racismo, ainda presente e naturalizado em nossa sociedade.

Mas penso que este deveria ser, exatamente, um dia de reflexão dos lutadores e lutadoras do nosso país. Esse deveria ser o dia em que os movimentos sociais deveriam ir às ruas denunciar que apenas houve uma mudança no tipo de escravização dos ex-escravizados, uma escravização que se reflete nas condições precárias de trabalho, uma escravização que se repete no tratamento desigual dado aos negros nos atendimentos em setores públicos e privados, de acesso à educação que o represente e que conte sua história e não uma história eurocentrada, como vemos em escolas e universidades.

É um dia para refletirmos como a ideologia dominante, branca, patriarca, machista, racista e classista vem ganhando cada vez mais espaço e se consolidando no senso comum. Como o racismo, ainda presente e violento, está presente nas ações de Estado, principalmente quando falamos da violência estatal exercida pelas polícias de todo Brasil. Pensar que projetos de leis discutidas hoje no Congresso, como a redução da maioridade penal, mudanças nas leis previdenciárias, dentre outras tantas, têm um impacto ainda mais avassalador quando para a população negra de nosso país.

Defendo o dia 13 de maio para que ele esteja presente em nossa memória, para que aquele dia do ano de 1888 seja lembrado como o dia em que a elite brasileira iniciou a construção sistematizada das periferias das grandes cidades, locais destinados aos ex-escravizados e que sofrem, como no último domingo (10 de maio de 2015), em Salvador, com as condições precárias de vida. Não é a toa que, mais de cem anos depois da Lei Áurea, pouco tenha mudado.

Dói lembrar dessas coisas, mas que a nossa dor, a dor de todos os oprimidos, se transforme em vontade de transformação, em luta, em unidade para a construção de uma nova sociedade...

Deixo uma música / poesia para lembrar esse dia... Para reflexão...

Angola Congo Benguela
Monjolo Cabinda Mina
Quiloa Rebolo
Aqui onde estão os homens
Há um grande leilão
Dizem que nele há
Um princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados em carros de boi
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Angola Congo Benguela
Monjolo Cabinda Mina
Quiloa Rebolo
Aqui onde estão os homens
Dum lado cana de açúcar
Do outro lado o cafezal
Ao centro senhores sentados
Vendo a colheita do algodão tão branco
Sendo colhidos por mãos negras
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Zumbi é senhor das guerras
È senhor das demandas
Quando Zumbi chega é Zumbi
É quem manda
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

(Fonte: http://letras.mus.br/jorge-ben-jor/86395/)

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Catástrofe e mortes na periferia de Salvador*


Já são contabilizados 15 (quinze) mortos após os temporais que assolam a capital baiana desde a madrugada de domingo (26) até o dia de ontem (28).

Após quase um mês em que houve chuvas fortes e caos na cidade de Salvador, a tragédia se repete. 

Toda cidade ficou em baixo de água, porém, desde a última chuva, quase nenhuma providência foi tomada pelos poderes públicos.

Governos estadual (PT) e municipal (DEM) fecham os olhos e não tomam nenhuma providência. As encostas dos morros continuam vulneráveis e os moradores / trabalhadores da periferia são as principais vítimas.

Uma das providências tomadas após a última chuva foram as dragagens dos Rios das Tripas e o Rio Vermelho que cortam bairros nobres da cidade, na região do Iguatemi e Rio Vermelho. Porém, na periferia, nada foi feito. Mesmo com as ações nesses rios, eles transbordaram.

No bairro de Bom Juá e em outras localidades da periferia de Salvador, os córregos transbordaram. A Defesa Civil não atende aos chamados e apenas quando ocorre o pior, desmoronamentos e deslizamentos de terras.

A situação mais grave foi na comunidade de Barro Branco, nas proximidades da avenida San Martin, que passa por um vale que corta os bairros de São Caetano, Retiro e Liberdade. No deslizamento de terra que atingiu o local já são contabilizados 08 (oito) mortos e uma jovem desaparecida. Os trabalhos de resgaste se iniciaram na madrugada de domingo para a segunda, feito por moradores e garis, antes mesmo da chegada dos Bombeiros. A Defesa Civil só chegou ao local quando o desastre ganhou notoriedade.

Enquanto isso, o prefeito da cidade, ACM Neto (DEM) contabilizava, apenas, 03 (três) mortos, quando o número já eram 07 (Sete). O governo do estado se dispôs a pagar pousadas para alguns dos desabrigados que já chegam ao número de 500 (quinhentos), mas moradores das zonas atingidas afirmam que a ajuda tem vindo para poucos (alguns estão abrigados em escolas municipais).

Para completar a tragédia, nos bairros periféricos os alagamentos foram agravados pelas ações da prefeitura que, na ambição de maquiar a cidade, mandou asfaltar ruas sem considerar a existência de bueiros. As tampas foram vedadas pelo asfalto, impossibilitando que, no momento do alagamento, a retirassem.

Nesses momentos percebemos para quem os governantes governam. Seja PT ou DEM a preocupação é sempre agradar a elite. Mas essas tragédias, apesar da dor infligida à toda população, devem servir de lição para que nós, trabalhadores e trabalhadoras, percebamos que não é uma simples maquiagem que solucionará nossos problemas cotidianos. As vítimas desse desastre têm cor e classe.

Socialismo ou barbárie!

*Texto publicado no Tribuna Aberta do jornal virtual Esquerda Diário. (http://www.esquerdadiario.com.br/Catastrofe-e-mortes-na-periferia-de-Salvador)

Indico como outra leitura sobre as tragédias, o seguinte artigo: O Pior Temporal (http://www.passapalavra.info/2015/04/103968)

Marighella vive!


Após muito tempo sem publicar nada (mas sem deixar de pensar no mundo que me cerca), trago essa importante contribuição do revolucionário baiano Carlos Marighella. Nesse texto ele trata sobre como deve ser dado a luta interna entre os diversos pontos de vistas dentro de uma organização revolucionária. Amplio o debate para as relações existentes entre a esquerda revolucionária brasileira. Vivemos um momento de total fragmentação das organizações. Algumas com desvios do tipo "cretinismo parlamentar" (como afirmava Lênin), mas, em geral, sofrem de culto à personalidade, auto-construção acima da construção da luta da classe trabalhadora, distanciamento da luta concreta e capacidade orgânica e ideológica de disputar os rumos da luta de classe. Aliás, falar em ideologia se tornou uma heresia. Ao invés dessa construção, as organizações que poderiam unir forças, nesse momento de fragilidade do movimento revolucionário internacional e vitória e assentamento da ideologia burguesa em todos os setores da classe trabalhadora, nos preocupamos em criticar uns aos outros e não temos a capacidade de construir uma unidade real para avançarmos no sentido da revolução.

Nós, revolucionários, não podemos nunca nos esquecer que o caminho tem que ser da unidade. A burguesia se une sempre que seus interesses são ameaçados. As manifestações conservadoras desse ano demonstraram como eles sabem lidar com a diversidade muito melhor que nós, que jogamos para debaixo do tapete nossa capacidade de crítica e auto-crítica e substituímos o projeto de emancipação da classe trabalhadora por um projeto de emancipação para classe trabalhadora, muitas vezes desconsiderando que o fundamental em uma revolução socialista são os trabalhadores e as trabalhadoras.

O texto de Marighella se mostra contemporâneo e se refere à uma organização que passava por um processo de burocratização e centralização de grande envergadura. Ainda assim, a sensibilidade revolucionária do autor nos faz refletir sobre o método revolucionário de se realizar disputas, lutas internas e entre companheiros e companheiras. Que nos sirva de lição...

Luta Interna e Dialética

Carlos Marighella

15 de Outubro de 1966


Fonte: Tribuna de Debates - VI Congresso PCB. Artigo assinado com o pseudonimo: C. Menezes
Transcrição: Alberto Santos
HTML:
 Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


Todos os partidos do proletariado que foram adiante e obtiveram vitórias — inclusive chegando ao poder — passaram por um processo mais ou menos agudo do luta interna. Isto aconteceu na URSS, na China, em Cuba e outros países.
A experiência histórica brasileira mostra — por sua vez — que todos os passos para a frente em questões de orientação ou de correção da erros, na vanguarda do proletariado, sempre foram acompanhados de intensa luta interna.
Foi o que se deu em 1942-1945 (período do Estado Novo) e em 1956-1958 (período da discussão do culto à personalidade). É o que se dá agora, no período da derrota imposta ao nosso povo pelo golpe militar-fascista de 1º de abril de 1964.
Que é a luta interna, como e por que ocorre no partido marxista do proletariado?
A luta interna é o choque que sobrevém no seio do partido, quando se confrontam ideias contrárias, relacionadas com a prática na atividade dos militantes.
A dialética marxista incumbe-se de explicar o mecanismo da luta interna e sua natureza intrínseca, isto é, sua natureza própria, peculiar.
A dialética marxista mostra que, no mundo, tudo é inter-relacionado, tudo se desenvolve, quer se trate da natureza, da sociedade humana ou do pensamento. A vanguarda do proletariado brasileiro, que é um organismo social vivo, representando interesses políticos e ideológicos de uma determinada classe, não foge aos princípios da dialética marxista. O que se passa na vanguarda de nosso proletariado obedece às leis fundamentais da dialética marxista. A ideologia do partido é uma ideologia determinada, é a ideologia do proletariado. Sobre ela, porém, exerce uma enorme influência a ideologia burguesa, vinda do exterior.
O choque é inevitável, sobretudo nos momentos de derrota do proletariado, quando a ideologia burguesa aproveita as brechas ocorridas no seio da vanguarda e penetra mais fundo.
A derrota do partido marxista do proletariado é — via de regra — consequência de erros que se localizam na incompleta acumulação ideológica no seio da vanguarda ou na influência demasiado acentuada da ideologia burguesa. Outras causas de erros podem subsistir. Mas o fundamental consiste em causas ideológicas,
Devido, pois, ao papel ativo das ideias na sociedade e no partido marxista do proletariado, a luta interna deve obrigatoriamente ser tratada como luta ideológica, não podendo ser levada a efeito, com resultados positivos, se não obedecer às leis da dialética materialista, aos princípios da filosofia marxista.
Sob o ponto-de-vista dos princípios, o primeiro cuidado na luta interna é não tratá-la como luta entre inimigos.
O partido em seu conjunto luta contra os inimigos de classe. Sua finalidade é assegurar a direção da luta de classes dos trabalhadores — e como consequência a direção da luta de todo o povo pela sua libertação, a paz, o progresso, o socialismo.
A luta interna é chamada luta interna, no partido marxista do proletariado, exatamente para diferençá-la da luta que ele — o partido marxista — trava e dirige em nome dos interesses políticos e ideológicos do proletariado e de todo o povo, contra os inimigos da classe operária e da nação brasileira, contra o imperialismo, contra o latifúndio, contra as classes exploradoras, contra tudo o que freia o progresso, a marcha para a frente.
A luta interna não é um reflexo da luta de classes nem a própria luta de classes no interior do partido.
No interior do partido não há tal, porque o partido não é uma organização composta de classes opostas.
Os membros do partido lutam pelos objetivos de classe do proletariado e esforçam-se por [para] que sua consciência seja uma só — a consciência do proletariado.
Os conflitos que surgem no partido não provém de choques de classes diferentes, atuando internamente, mas de influências ideológicas das classes que exteriormente são hostis ao desenvolvimento da consciência de classe do proletariado e de seu partido.
Os que discordam no interior do partido não são inimigos de classe. As discordâncias são uma contingência dialética do desenvolvimento da consciência e derem ser toleradas e admitidas normalmente.
Na luta interna não se trata de liquidar quadros. Não se trata de aplicar medidas de coação.
Quando a luta interna é encarada como luta de classes no interior do partido, estamos em face de um desvio, de um desvirtuamento do marxismo e sua filosofia.
Ter a luta interna na conta de luta de classes (ou de uma forma de luta de classes) é um procedimento que estimula a prepotência, favorece o clima do culto à personalidade, fomenta o poderio individual ou a luta de grupos.
É igualmente errôneo considerar a luta interna como luta desordenada, visando a desrespeitar o centralismo democrático, principio diretor da estrutura e funcionamento do partido, onde a unidade e a disciplina permanecem necessária e obrigatoriamente como fundamentos partidários.
Difundir a intolerância, exercer qualquer tipo da coação, liquidar quadros, fracionar, abalar a unidade e a disciplina, são métodos condenáveis e condenados na luta interna.
Não sendo uma luta entre inimigos, a luta interna tem que obedecer necessariamente a um método capaz de fazer avançar o partido marxista do proletariado, sem destruí-lo internamente e sem debilitar t sua unidade ou enfraquecê-lo perante o inimigo de classe.
Dentro do partido não se pode evitar a luta interna. Os que pensam impedir ou deter a luta interna (ou diante dela se omitem) desconhecem a inexorabilidade das leis que presidem ao desenvolvimento social.
A luta Interna, como qualquer outra luta que diz respeito a relações entre os homens, não é desencadeada por fôrças cegas, espontâneas. Ao contrário, a luta interna, assim como qualquer outra lei objetiva do desenvolvimento social, manifesta-se através da ação dos indivíduos. Estes, a princípio, podem ser surpreendidos com a manifestação das leis objetivas. Ou podem ser levados a exageros e excessos ao interpretá-las, ou à omissão.
Todas as leis objetivas, porém, são cognoscíveis, podem vir a ser conhecidas, e os homens podem utilizá-las ou vir a utilizá-las corretamente em sua atividade prática.
Assim, uma vez surgida, é através da ação dos homens, é através da atividade a da consciência dos membros da vanguarda que a luta interna será realizada. Os homens são seres conscientes, que propõem determinados objetivas e se esforçam por alcançá-los.
O marxismo é o que pode haver de mais oposto e contrário ao espontaneíamo e à renúncia ao domínio das leis sociais.
Em vez de deixar que as leis objetivas se manifestem sem dominá-las, o materialismo histórico procura conhecê-las e utilizá-las como guia em favor da ação do proletariado.
Daí por que só há um método correto a ser aplicado na luta interna, um único método capaz de fazer avançar 0 partido no curso de tal luta, e este é o método dialético-materialista.
Segundo tal ponto-de-vista, a luta interna constitui a um só tempo uma luta ideológica e teórica.
A teoria por si só não pode modificar a realidade, não tem condições para fazê-lo. Mas sem a teoria é impossível conhecer e dominar as leis objetivas, uma vez que o conhecimento não é mais do que a atividade teórica do homem.
Como luta teórico-ideológica, a luta interna exige que se saiba generalizar a experiência da realidade brasileira, a experiência concreta de nossa revolução e de nosso partido. E isto não se consegue sem o manejo da teoria.
O objetivo da lula interna — no seu aspecto teórico-ideológica — ou como luta teórico-ideológica — é conseguir chegar a mudanças na cabeça dos homens, na consciência dos militantes da vanguarda.
Assim se podem obter transformações internas (do ponto-de-vista ideológico), transformações que facilitem melhor traçado e execução da linha política. Tudo está em obter um avanço na acumulação ideológica, em melhorar a condição ideológica do partido em favor das concepções proletárias.
A luta ideológica, aliás, ou a luta teórica-ideológica, não é uma luta abstrata. Ela só tem valor quando inler-relacionada com a luta política, levando-se em conta que, se as coisas não forem vistas sob o ângulo da ideologia de classe do proletariado, nada se conseguirá no terreno da política.
Por exemplo, sob o governo Goulart a linha política foi levada a uma derrota (a de 1º de abril) em consequência da falta das condições ideológicas. Ou seja — de nossa parte — a existência da profundas ilusões de classe na burguesia, ao lado de uma flagrante submissão à política do governo, então empenhado na luta pelas reformas de base.
Todos os Partidos a homens (teóricos ou práticos) que avançaram no caminho da revolução marxista, só o fizeram reformando sua ideologia no curso de lutas internas. Mesmo Marx e Engels — fundadores do socialismo científico — antes de se transformarem em marxistas, eram hegelianos de esquerda, e, em dado momento, feuerbachianos, como confessaram. Não teriam superado suas posições de democratas radicais, se não se colocassem sob o ângulo de visão do proletariado e não tivessem mudado de ideologia.
O caso de Cuba é outro exemplo. Ali, reformas ideológicas foram efetivadas no curso da luta interna, e à medida que se foi dando, na prática, o emprego da crítica e da autocrítica.
É por isso que a crítica a a autocrítica fazem parte obrigatória e indispensável do método aplicado na condução da luta interna. É necessário não esquecer — nesse caso — que o emprego da critica e autocrítica exige como ponto-de-partida fixar uma posição de classe (a posição de classe do proletariado), para o exame dos erros cometidos. Examinados esses erros — sob tal ponto-de-vista — não é difícil chegar à conclusão de que o fundamental na luta interna e no método de encaminhá-la é chegar a uma reforma da ideologia.
Como tal entende-se renunciar às posições ideológicas falsas e chegar às posições ideológicas inerentes à classe operária.
Quais são as posições falsas, quais as que correspondem aos interesses do proletariado?
A luta interna poda responder a estas questões — no caso brasileiro — quando se defrontam as ideias em torno da hegemonia da revolução da questão agrária, da aliança operário-camponesa, do problema do poder, da constituição da frente única, dos caminhos da revolução (pacifico ou armado), da tática eleitoral, das formas de luta, do papel do partido, de sua independência de classe ou do reboquismo ante a burguesia, e várias outras questões.

terça-feira, 10 de março de 2015

Atordoado permaneço atendo!

Diálogo entre a esquerda em pleno século XXI

João: - O que você acha da atual conjuntura econômica?
Maria: - Eu? Acho que estamos de mal a pior. A esquerda perdeu suas referências e agora, na política, todos parecem iguais...
João: - É mesmo... E parece que fica cada vez mais difícil um sentimento coletivo de classe...
Maria: - Mas acho que nunca houve. Se pensarmos direito, nós mulheres sempre fomos as principais vítimas da opressão de classe. Seguindo essa lógica, algo me diz que o problema são vocês, homens...
João: - Acho que você está enganada, Maria.,. Nós negros sempre fomos explorados. A base do desenvolvimento do próprio capitalismo está na exploração da mão de obra escrava, vinda da África...
Maria: - Mas, mesmo que faça esse recorte racial, se formos analisar a situação da mulher negra ela é muito pior a do homem negro...
João: - E quem é você para falar de mulheres negras se você é branca? Esse é um discurso que quer dividir nosso povo...
Maria: - Você que quer dividir as mulheres, com esse discurso racial do século XIX. Posso até admitir que exista racismo, mas essa mania de vocês de ficar defendendo a existência de raça...
João: - Você é uma racista...
Maria: - E você é um machista..
José: - Mas, gente, enquanto vocês ficam discutindo isso, o capitalismo avança, tanto na exploração e extermínio da população negra, quanto na exploração e violência contra as mulheres. O que nos unifica é o nosso estado de opressão que convergem no nosso lugar de classe... Não nos repartamos, nos unamos.
João e Maria: - Quem é você para falar sobre essas coisas? Seu misógino e racista comunista... Suas referências são masculinas e brancas... Seu opressor...

Enquanto, a burguesia no século XXI dialoga assim, com o tempo presente...


Sem perdão para os que sabem o que fazem

terça-feira, 10 de março de 2015


Recentemente, surgiram evidências de que os neandertais teriam sido quase tão inteligentes quanto nós. E de que convivemos com eles por muito tempo antes que desaparecessem, como provam os fragmentos do DNA neandertal encontrados em nosso genoma.


Nos descobrir mestiços desses ancestrais que costumávamos desprezar é só mais uma decepção em meio a muitas outras. 

Primeiro, Copérnico mostrou que a terra não é o centro do universo. Depois, Darwin descobriu que somos apenas uma versão mais complexa do macaco. E Freud revelou que nossa toda poderosa Razão pode ser facilmente enganada pelo inconsciente. 

O capitalismo acelerou esse processo de consciência sobre a própria insignificância amarrando nossas vidas aos caprichos das leis cegas do mercado. Trocar Deus, Razão, Ciência pelo culto às mercadorias não melhorou nada a autoestima da espécie.

Marx também não colaborou quando mostrou que chegamos aonde chegamos por obra de nossas próprias ações. O único atenuante é o fato de que vínhamos agindo tal como Cristo disse sobre os homens quando pediu a Deus que os perdoasse: “... eles não sabem o que fazem”. 

O primeiro passo para superar as próprias fraquezas é reconhecer sua existência. É isso que muitas das descobertas sobre nós mesmos vêm oferecendo. 

Milênios atrás, não tínhamos como saber porque os neandertais estavam desparecendo diante de nossos olhos. Hoje, já temos uma boa ideia sobre como pode ser nossa própria extinção. Mesmo assim, marchamos acelerado em direção a ela. 

A grande maioria continua ignorando o mal que é obrigada a fazer a si mesma. A minoria que manda e sabe o que faz está longe do alcance de qualquer perdão.

IN: http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2015/03/sem-perdao-para-os-que-sabem-o-que-fazem.html

domingo, 1 de março de 2015

Os inocentes

Sempre nos esquecemos dos inocentes.

Na guerra, nas brigas, no ódio que destilamos no dia a dia, quando brigamos ou ofendemos...
Quando nos deixamos contaminar por sentimentos espúrios, mesquinhos, tristes...


Os inocentes, crianças e animais, são os que mais sofrem com nossas irresponsabilidades e angústias. Possuem limites, dados por nós, para reagirem. E quando reagem são alvos de nossas iras.

Não a toa, não há religião ou ideologia que não os absolva, mesmo que muitas vezes os utilizem como "bucha de canhão" para serem ferramentas de promoção do ódio de seus algozes...

Em tempos de angústia, indiferença e ódio, "que se faça o sacrifício e cresçam logo as crianças", como diria a Legião Urbana...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Pílulas Diárias II

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015


A ditadura de 1964 era militar e empresarial

Vito Giannotti

“A gente sabe como foi. A gente conta, escreve e prova”. Este é o lema do projeto “Contemos nossa história”, sobre a repressão da ditadura de 64 aos metalúrgicos de São Paulo. O projeto resultou num livro imperdível. Trata-se de "A Investigação Operária: empresários, militares e pelegos contra os trabalhadores.” A publicação traz dezenas de depoimentos de lideranças sindicais sobre a perseguição violenta que sofreram por parte do aparelho estatal com a generosa cumplicidade das empresas.

Um exemplo: Harry Shibata foi o médico legista que assinou a autópsia de Vladimir Herzog. Trata-se da principal peça da farsa que transformou o assassinato do jornalista em suicídio. Ele também foi médico da CIPA da Cobrasma (Companhia Brasileira de Materiais Ferroviários). Policial assalariado pela empresa para assinar laudos referentes às mortes de operários que morriam em acidentes em suas dependências. Muito provavelmente, tão falsos quanto os de Herzog.

Do material de apoio do projeto, consta a reportagem de Marina Amaral publicado pela Agência Pública, em fevereiro de 2012. A jornalista entrevistou José Paulo Bonchristiano, um dos poucos delegados ainda vivos que participaram das ações repressivas durante a ditadura. Ele conta que Roberto Marinho, da Globo, “passava no DOPS para conversar com a gente quando estava em São Paulo”. Ou que Octávio Frias, da Folha de S. Paulo, se oferecia para atender ao “que o DOPS precisasse”. Relata ainda que Amador Aguiar, fundador do Bradesco mobiliou a sede do DOPS, no bairro paulistano de Higienópolis. 

Tudo isso mostra que o regime de 1964 foi uma ditadura empresarial-militar. Contou com o apoio decisivo de corporações que continuam impunes e faturando bilhões. 

Leia mais sobre o projeto clicando aqui 


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A Indiferença



A indiferença hoje é a regra.

Buscamos tanto nossos direitos como indivíduos, nossa liberdade, nossa autonomia que esquecemos que somos seres sociáveis, que vivemos em comunidade e que meu direito individual não pode ferir a coletividade.

Muitas vezes sabemos disso tudo, mas em uma sociedade em que a chamada livre iniciativa é tida como regra (mesmo que ela seja uma ilusão) o que importa é o meu.

Diante disso, vemos pessoas reproduzindo um senso comum que, ao mesmo tempo que sabe reivindicar os direitos para si, não respeita quando é para os outros. Naturalizamos a violência, achamos que bandido bom é bandido morto, que a polícia (e por diversas vezes os próprios cidadãos) devem fazer justiça pelas próprias mãos, desde que isso garanta o que EU quero.

Essa é a lógica de uma sociedade doente, que só se move para o consumo, que está imersa de uma ideologia que beneficia apenas uma pequena parcela, mas acredita que não existem mais embates ideológicos, que é tudo a mesma coisa. A mídia, como dizia Raul Seixas e Marcelo Nova, são os nossos aiatolás. Veja, Globo e mesmo as propagandas de governos corruptos (seja do PT, DEM ou PSDB e muitas outras siglas dessa sopa de letrinhas que é a política institucional brasileira) ditam o que é correto. O pior é que todo mundo acha que sabe tudo sobre política ou economia apenas pelo achismo, ao que domina conceitos e possui capacidade analítica de um cientista das humanidades apenas porque leu um meme ou posto no Facebook. Ainda utilizam como respaldo o argumento de que "é a minha opinião", logo você não pode questioná-la mesmo que se falem atrocidades.

A única democracia que, de fato, vivemos é a do consumo. É crédito para todo lado e as pessoas apenas organizam suas vidas para isso. Daí se endividam até o pescoço, depois não possuem condições de pagar, o sistema financeiro começa a negar novos créditos, o governo começa aumentar impostos e a crise se instaura. Mas não tem problema, o grande Capital também sabe lucrar nas crises e, enquanto o povo aperta os cintos, os defensores do neoliberalismo e do livre comércio conseguem dos governos os financiamentos necessários enquanto nós, trabalhadores, vemos todas as ilusões criadas pelo consumismo se dissiparem. E ficamos na expectativa de quando poderemos voltar a consumir como antes, mas nunca problematizamos se é isso mesmo que nos transformará em sujeitos autônomos.

E por falar em autonomia, sempre que se fala em alienação ou em sujeitos autônomos aparece alguém com a mesma ladainha dizendo que falar em alienação é menosprezar a capacidade de escolha do indivíduo. Que estes se movem somente por interesses individuais... Baboseira pós-moderna...

Nem sempre nos organizamos assim. Freud, em O mal-estar da civilização, diz que precisamos buscar a medida para uma sociedade que garanta as individualidades sem se esquecer do coletivo. Quando optamos pelo individualismo exacerbado, temos a indiferença como regra, temos um caos, no sentido negativo do termo, em que "farinha pouca, meu pirão primeiro" resume esse grau de desumanização que vivemos, em que as pessoas que "arrotam" suas morais, muitas de cunho religioso, principalmente quando falam de aborto, relações homo-afetivas e legalização da maconha, entre outras temas polêmicos, são os mesmos que reivindicam pena de morte, volta da ditadura e tantas outras coisas que em nada têm a ver com a caridade, o amor ao próximo, o não julgar, o perdoar tão propagada pelo cristianismo e que a maioria dessas pessoas reivindicam em dias de culto ou missa. De outro lado, sociedade extremamente coletivizadas tendem a se tornar regimes autoritários. Nos dois casos, apenas uma pequena elite sustentam seus interesses.

Mas as pessoas estão dispostas a abrir mão de sua individualidade se tiverem como ter uma falsa sensação de segurança e puderem consumir cada vez mais e mais. Contraditório, não?

Enfim... A indiferença mata, desumaniza, deprime... E a maior angústia é: o que fazer? Difícil saber quando não se vê uma luz no fim do túnel...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Sobre a barbárie

Sobre a barbárie

Não falem em nome de nenhum Deus. Olorum, Jeová, Alah, ou qualquer outro!!
Se você defende a morte de pessoas, não é merecedor falar em nome de Deuses.
Se não te toca a dor do outro, não fale em humanidade...
Se a fome, a miséria, as condições insalubres de trabalho e de vida não lhe despertam revolta, não fale em caridade...
Se achas que a violência, o ódio, a vingança e a revanche não devem ser combatidos dentro de ti, não fale em amor, em amizade ou amor ao próximo...
Se o ter vale mais que o ser, em seu sentido mais amplo, de nada vale sua moral...
Se do seu lugar de conforto você pretende falar em nome dos outros, não fale em mudanças, elas serão mais rasas do que o espelho d'água criada pelos chuviscos em dias de verão...
Se naturaliza a lei da vantagem e a meritocracia, não fale em igualdade...
Se não faz parte do seu cotidiano o combate às opressões de gênero, raça ou de classe, não espere um mundo melhor...
Se não consegue sentir o sabor da luz do sol ao tocar em seu rosto, pela manhã, não espere poesia...

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

E se água deixar de ser mercadoria?

E se a água deixar de ser mercadoria?

150125-Água
Como Paris, Berlim, e dezenas de cidades estão remunicipalizando o abastecimento. Por que as metrópoles brasileiras, em crise devido à privatização, deveriam fazer o mesmo
Por Myriam Bahia Lopes
Em um momento no qual a vida na maior capital brasileira encontra-se ameaçada em razão da falta d´água, seria oportuno entender prática adotada em 86 cidades no mundo. Elas abandonaram o modelo de empresa privada de abastecimento de água, no qual a meta é o lucro e seu cálculo depende da cotação de ações na bolsa de valores. Tomara a decisão depois de avaliarem os limites desse modelo e os prejuízos ecológicos e sociais e econômicos dele decorrentes. Em dezembro de 2013, consolidou-se um grande agrupamento europeu de cidadania pelo direito humano de acesso à água e pela interrupção e reversão da privatização desse bem. Nessa direção observamos um movimento de remunicipalização e de retomada e criação de parcerias público-público para o abastecimento d´água nas cidades.
Breve história
Os sistemas de distribuição de água e de esgotamento foram aperfeiçoados, ao longo do século XIX, como uma resposta à eclosão de epidemias nas cidades industriais. Essas cidades, que haviam se adensado rapidamente, em apenas algumas décadas, concentraram milhares de habitantes em precárias condições de moradia e de trabalho. Nesse quadro, os sanitaristas e reformadores sociais dos oitocentos preconizaram que, sem um meio saudável, com circulação de água, luz e ar e uma alimentação regrada, a vida e a moral dos habitantes da cidade se esvairia. E mostraram como as epidemias não se detinham nas fronteiras dos bairros pobres: percorriam cidades, viajavam por oceanos e se distribuíam entre países. Para eles, seria impossível formar o cidadão sem um meio saudável, pois era o meio que constituía o indivíduo. O bom governo seria aquele que conseguisse reduzir a mortalidade e aumentar a população. A biopolítica impulsionou as reformas urbanas ocorridas nas principais capitais europeias e também no continente sul-americano, como as reformas ocorridas no Rio de Janeiro e em Buenos Aires, no início do século XX.
Se cada cultura cria uma forma específica e diferenciada de lidar com as excreções do corpo, de fixar o que é sujo e o que é limpo, o reconhecimento de que a água é fonte da vida é um consenso universal. O direito ao acesso à água é um direito fundamental.
A partir da década de 1960, o continente sul-americano foi tomado pela intervenção de governos militares. Com o aporte e a ingerência do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, um amplo processo de privatização de serviços de abastecimento de água teve lugar no continente. O Chile tornou-se o exemplo mundial máximo, visto que a totalidade dos recursos hídricos desse país foi privatizada durante o governo do General Pinochet. A partir de 1990 e em resposta às pressões do capital financeiro, houve novo impulso e privatização desses serviços em outros países. Em 2000, a Comissão Mundial de Barragens avaliou que a sua construção desalojou entre quarenta e oitenta milhões de pessoas no planeta.
Os Movimentos sociais e a água
A apropriação privada da água e da terra e a cartelização mundial do hidronegócio vêm sendo denunciadas em diversas frentes. Como a água é indispensável à vida e possui um ciclo que deve ser protegido, encontramos uma variedade de grupos que direta ou indiretamente se engaja em sua defesa. No plano internacional, para citar apenas três exemplos, há profissionais que se associam à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) como consultores para investimentos em agricultura responsável, a organização internacional Fórum Mundial de Pescadores e Trabalhadores da Pesca (FMPTP), grupos que se batem contra o fracking – a forma mais predatória de extração de petróleo.
No Brasil, indicamos os grupos que lutam em defesa da demarcação das terras indígenas, grupos que se engajam na promoção da agricultura familiar e orgânica, da reforma agrária, cujo maior exemplo é o Movimento dos Sem Terra (MST), aqueles que lutam em defesa dos atingidos por grandes barragens (MAB), como Belo Monte e grupos que lutam em defesa dos atingidos por minerodutos, como o da Anglo-American, recém-inaugurado em dezembro de 2014.
Em campos opostos, enfrentam-se de um lado, grupos que exploram o recurso hídrico e promovem a perpetuação da temporalidade cíclica da água e de outro, multinacionais e empresas produtoras de commodities, que operam na temporalidade linear da técnica, realizam gigantescas e irreversíveis intervenções no território, tais como a construção de grandes usinas hidrelétricas, as explorações minerárias, os minerodutos. Além da resistência local, esses conflitos produzem uma batalha judicial no Brasil e na esfera internacional que coloca o país, em alguns casos, na posição de ser conivente com o desrespeito de direitos humanos fundamentais, a despeito do país ser signatário dos tratados internacionais.
Remunicipalizar?
Transferir os serviços de água das companhias privadas – que também podem possuir capital misto – para as autoridades municipais. A favor dessa reversão encontramos o exemplo de várias capitais, entre as quais, Paris, Berlim, Buenos Aires e de países como Malásia e Tanzânia. Essa transformação ou reversão foi possível a partir da tomada de consciência, por parte dos habitantes,das nefastas consequências do processo que transforma a água de recurso natural em commodity.
Nos últimos quinze anos, pelo menos 86 cidades no mundo remunicipalizaram os serviços de água. Paris, capital e sede de duas poderosas empresas do hidronegócio, a Veolia e a Suez, remunipalizou em 2010; Berlim, em 2013. A PUPS, ou seja, parceria público-público, público-comunidade e comunidade-comunidade é forma de parceria que envolve o planejamento e a participação coletiva do uso dos recursos hídricos e que rejeita a concepção, segundo a qual, o alvo do empreendimento é o lucro.
Segurança Hídrica
O que fazer quando São Paulo, a maior capital brasileira e várias outras cidades não tiverem mais água para distribuir entre os seus habitantes? O modelo adotado pela Sabesp, cujo lucro reverbera a imprevisível bolsa de valores de Nova York, atende a quem? Ao habitante comum, visto a qualidade e a escassez da água fornecida pela empresa, não tem sido. É admissível que o provedor de água crie uma pirâmide de usuários na qual destaca as maiores empresas consumidoras para hierarquizar e comercializar privilégios em relação ao acesso à água? E que guarde a sete chavesesses dados, à revelia da lei da transparência? Na hipótese de haver vultosos investimentos federais para se tentar evitar o pior, esses recursos atingirão positivamente os serviços dispensados ao pequeno usuário? Em um momento de ameaça à vida de seus habitantes, por todos os riscos que a ausência ou escassez de água de boa qualidade para o consumo humano provoca, devemos insistir na defesa cega desse modelo de negócio privado que por sua essência visa o lucro?
Ou devemos olhar com muito cuidado e aprender com o processo de remunicipalização da água em curso em outras capitais? Com segurança hídrica não se brinca pois a vida de todos não pode ser um jogo e alvo de especulação.
Referências Bibliográficas:
* Martin Pigeon, David A McDonald, Oliver Hoedeman, Satoko Kishimoto Remunicipalization Putting Water Back into Public Hands.
Transnational Institute, Amsterdam, March 2012
* Karen Piper The price of thirst University of Minesota Press, 2014
* http://outraspalavras.net/brasil/agua-as-mineradoras-tem-muita-sede/
* http://apublica.org/2015/01/sabesp-se-nega-a-publicar-contratos-de-empresas-que-mais-consomem-agua/

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Sobre a água (ou a falta dela)

É assustador as notícias que povoam os telejornais nos dias de hoje. Quase todas as reservas no Brasil estão abaixo de sua capacidade e as previsões não são nada otimistas, já que não vai chover o suficiente para encher os reservatórios.

Mas a previsão já era alarmante há anos atrás. Há trinta anos já se previa a morte dos afluentes que desembocavam, por exemplo, no Rio São Francisco. Já falávamos da contaminação de solos pelos produtos químicos utilizados, principalmente, no agronegócio e nas sementes trazidas para cá por multinacionais. Já prevíamos o aquecimento global, o processo de desertificação da caatinga e do cerrado e agora isso é uma realidade.

Mas nada segura a fome de lucro das grandes indústrias e do agronegócio. Buscamos os culpados e aí estão. Aos defensores do sistema capitalista a resposta é: não é possível casar sustentabilidade e lucro...

Na mídia, os governantes, representantes da burguesia industrial e agrária, empurram os culpados e, quando chegam a um acordo, culpam São Pedro (!!). A intervenção humana não tem nada a ver, segundo esses senhores e essas senhoras. A sanha por dinheiro também não...

O futuro aparenta ser catastrófico e não é um futuro distante... No jornal A Tarde de hoje, 26/01/2015, uma matéria anuncia que a falta de água afeta cerca de 46 milhões de pessoas no país, atingindo principalmente o Nordeste. Nem a Bacia Hidrográfico do rio São Francisco escapa. A preocupação do especialista, professor Tundisi, da UFSCar é, exatamente, o impacto na indústria e no agronegócio quando na verdade estes são os grandes contribuintes para a situação que chegamos.

Infelizmente, o projeto do capitalismo voraz venceu. Enquanto latifúndios e donos de multinacionais (industrial e financeiro) pouco estão se importando com o que virá, seguros que o dinheiro que possuem lhes garantirão uma sobrevida, nós, os subalternizados, trabalhadores e trabalhadoras, dançamos conforme a música, buscamos cada vez mais ter e pouco refletimos sobre essas questões. Afinal de contas, no mundo do ter, pouco importa o outro... Essa divisão nos trouxe à barbárie que se instaurou, onde as relações se constroem de forma frágil e superficial. Em breve nos queixaremos da violência por não ter o comer e beber...

Parece um futuro de um filme de ficção científica da década de 1980 ou 1990, mas é o século XXI.


Essas reflexões vieram, em especial, a partir da leitura dos seguintes textos:

Carta ao século 19: chega de banho todo dia

“O Cerrado está extinto e isso leva ao fim dos rios e dos reservatórios de água”

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Seria Grampinho esse prefeito todo?

É curioso a aprovação de 61% da população do prefeito ACM Neto (DEM) como o melhor gestor das oito maiores capitais do país. Pior, pela segunda vez seguida. Retornei há pouco tempo para Salvador e, apesar das melhorias pontuais, principalmente no asfaltamento da cidade, não vi uma melhoria efetiva sequer dos serviços públicos.

Precisei ir na emergência da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Largo de Roma no início do mês de dezembro. Lá chegando, fui informado que havia apenas um médico para toda a UPA e que não estavam atendendo emergência. Encaminharam para o 5.º Centro e para a UPA da San Martin, mas informaram que na San Martin havia apenas ortopedista e pediatra. Já a UPA próxima ao Hospital Roberto Santos, Cabula, com novíssimas instalações, falta médico clínico para atendimento de emergência de casos como derrame.

A coleta de lixo custa à cidade uma fortuna, mas parece não funcionar. Talvez para os turistas que andem em alguns locais privilegiados, como a Barra (bairro querido de Grampinho) ou que morem em bairros não-periféricos a coleta esteja ocorrendo de forma eficiente, mas não me parece ser o que ocorre na maior parte da cidade. Na Cidade Baixa, a coleta costuma demorar de 3 a 6 dias para ser realizada, mesmo a Revitta, empresa responsável, tendo avisado na rua em que resido que a coleta seria de segunda a sábado às 07:30. Em primeiro lugar ela não acontece nos dias indicados, em segundo, NUNCA foi coletado no horário indicado. A cidade está um criadouro de moscas, rememorando os tempos coloniais em que o lixo era deixado nas ruas e Salvador tinha a fama de ser mal cheirosa (em que pese as cidades europeias não serem muito diferente, na época).

Acho que não precisava muito que se fosse considerado melhor do que o antigo prefeito, João Henrique, principalmente em seu último mandato, já que no primeiro o banho de asfalto e maquiagem da cidade foi feito, receita copiada por Neto. Mas, daí a cegueira do que significa o governo do DEM?

Além da higienização social e étnica, que se iniciou desde o início do mandato do filhote de ditador, com a retirada forçada de moradores de rua, não apenas como uma política para o período da Copa, mas como uma política constante de tal gestão, além da retirada de comunidades que "enfeiem" os bairros nobres, ainda há a política de arrecadação desenfreada a partir de multas e impostos.

Não estou questionando que a prefeitura deva organizar o trânsito ou a arrecadação de impostos como o IPTU, mas se passarmos um pente fino veremos que muitos dos maiores devedores do IPTU estão nos bairros nobres ou são as grandes empresas, mas os benefícios, curiosamente, vêm exatamente para esses setores da sociedade soteropolitana. Mas a perseguição aos devedores, muito sem condições de pagar os altos valores e suas correções, podem ter, inclusive, seus imóveis leiloados. Curiosamente, Salvador é a cidade da região Nordeste com maior déficit habitacional, segundo pesquisa feita pela Fundação João Pinheiro referente ao ano de 2013, ou seja, em uma cidade com tantas áreas abandonadas, como a região do Comércio, os prédios abandonados não servem para a realização de uma reforma urbana, mas apelar para tomar imóveis de cidadãos pode.

Ainda em relação à arrecadação da atual gestão, não há um condutor que não avalie como abusiva a postura da prefeitura. E se de um lado temos uma coleta de lixo precária, por outro, desde dezembro de 2014, a pessoa que jogar lixo em local indevido na cidade de Salvador terá que pagar multa. Isso em uma cidade em que você percorre longas distâncias e não encontra uma lixeira ou em que a coleta de lixo, como dito anteriormente, acontece de forma irregular.

O transporte público continua ruim e ineficiente, ainda assim a prefeitura renovou o contrato de concessão do serviço público por mais 25 anos para os mesmos grupos de empresários e ainda empurrou um aumento para R$ 3,00 no valor da tarifa. Mais uma vez a prefeitura ataca o trabalhador da cidade, completando a ação que retirou diversas linhas de ônibus que saiam dos bairros periféricos e que passavam pela Barra. Quanto ao aumento, ainda haverá luta. Para amanhã, 23/01/2015, está marcado um ato contra o aumento, com concentração marcada a partir das 14h., no Campo Grande.

Enfim... Essas são as questões que mais têm me tocado e mais me incomodado sobre a avaliação do cidadão soteropolitano sobre a atual gestão. Pode ser comodismo, pode estar embasada na gestão anterior que mais que sucateou a cidade ao extremo. Mas nada justifica o grande índice de aprovação, a não ser (os pós-modernos, multiculturalistas e relativistas que me desculpem) um processo de alienação e despolitização dos moradores de Soterópolis.



Pílulas Diárias

A “austeridadezinha” da ortodoxia petista


Por Sérgio Domingues
Dilma “capitulou diante das pressões do mercado, assim como os líderes europeus e uma parte do PT”. Esta afirmação é do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, em entrevista publicada no Valor, em 16/01. Palavras insuspeitas, pois partem de um dos mais de 1.300 economistas que assinaram um manifesto em favor da reeleição da petista.

Belluzzo refere-se especificamente à nova equipe econômica do governo reeleito e aos ajustes por ela anunciados. Para ele:


Essa ideia de que vai se fazer dois anos de ajuste parece que não tem dado certo no mundo. Vamos fazer uma 'austeridadezinha', e aí a gente sai dela em dois ou três anos. Mas ninguém menciona o fato de que enquanto dura uma recessão vai se devastando a vida das pessoas.

Antes de Beluzzo, a Fundação Perseu Abramo já havia divulgado um documento afirmando que Dilma adotou uma estratégia “bastante conservadora e ortodoxa na política econômica”. Para quem não sabe, a fundação pertence ao PT.

Mas houve quem aprovasse. É o caso de Edmar Bacha, ex-integrante do governo Fernando Henrique e um dos criadores do Plano Real. Em entrevista ao Valor, publicada em 14/01, o teórico tucano ultraneoliberal elogiou a nomeação de Joaquim Levy e as primeiras medidas anunciadas por ele.

Mas, para Bacha, Dilma não tem a credibilidade dos tucanos para ir adiante. De qualquer modo, vontade de mostrar esse tipo de serviço não falta aos petistas que comandam o País.

E nesse mesquinho campeonato de ortodoxia neoliberal, Beluzzo é quem tem razão. Vai sobrar para a maioria pobre e explorada, seriamente ameaçada por mais uma onda de devastação econômica e social. 

De: http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2015/01/a-austeridadezinha-da-ortodoxia-petista.html

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Primeiras palavras

Em tempos de redes sociais, não tem havido muito espaço para considerações mais concretas, registros de reflexões mais aprofundadas sobre o mundo que nos rodeia. Este blog tem o intuito de suprir essa lacuna de maneira individual, mas compartilhada à tod@s que, porventura, venham a acessá-lo. Aqui estarei aberto ao diálogo franco e aberto, mas não depreciativo ou baseado em ataques. A gestão do mesmo se dará baseado na finalidade que dou ao mesmo. Sejam bem vind@s!