A indiferença hoje é a regra.
Buscamos tanto nossos direitos como indivíduos, nossa liberdade, nossa autonomia que esquecemos que somos seres sociáveis, que vivemos em comunidade e que meu direito individual não pode ferir a coletividade.
Muitas vezes sabemos disso tudo, mas em uma sociedade em que a chamada livre iniciativa é tida como regra (mesmo que ela seja uma ilusão) o que importa é o meu.
Diante disso, vemos pessoas reproduzindo um senso comum que, ao mesmo tempo que sabe reivindicar os direitos para si, não respeita quando é para os outros. Naturalizamos a violência, achamos que bandido bom é bandido morto, que a polícia (e por diversas vezes os próprios cidadãos) devem fazer justiça pelas próprias mãos, desde que isso garanta o que EU quero.
Essa é a lógica de uma sociedade doente, que só se move para o consumo, que está imersa de uma ideologia que beneficia apenas uma pequena parcela, mas acredita que não existem mais embates ideológicos, que é tudo a mesma coisa. A mídia, como dizia Raul Seixas e Marcelo Nova, são os nossos aiatolás. Veja, Globo e mesmo as propagandas de governos corruptos (seja do PT, DEM ou PSDB e muitas outras siglas dessa sopa de letrinhas que é a política institucional brasileira) ditam o que é correto. O pior é que todo mundo acha que sabe tudo sobre política ou economia apenas pelo achismo, ao que domina conceitos e possui capacidade analítica de um cientista das humanidades apenas porque leu um meme ou posto no Facebook. Ainda utilizam como respaldo o argumento de que "é a minha opinião", logo você não pode questioná-la mesmo que se falem atrocidades.
A única democracia que, de fato, vivemos é a do consumo. É crédito para todo lado e as pessoas apenas organizam suas vidas para isso. Daí se endividam até o pescoço, depois não possuem condições de pagar, o sistema financeiro começa a negar novos créditos, o governo começa aumentar impostos e a crise se instaura. Mas não tem problema, o grande Capital também sabe lucrar nas crises e, enquanto o povo aperta os cintos, os defensores do neoliberalismo e do livre comércio conseguem dos governos os financiamentos necessários enquanto nós, trabalhadores, vemos todas as ilusões criadas pelo consumismo se dissiparem. E ficamos na expectativa de quando poderemos voltar a consumir como antes, mas nunca problematizamos se é isso mesmo que nos transformará em sujeitos autônomos.
E por falar em autonomia, sempre que se fala em alienação ou em sujeitos autônomos aparece alguém com a mesma ladainha dizendo que falar em alienação é menosprezar a capacidade de escolha do indivíduo. Que estes se movem somente por interesses individuais... Baboseira pós-moderna...
Nem sempre nos organizamos assim. Freud, em O mal-estar da civilização, diz que precisamos buscar a medida para uma sociedade que garanta as individualidades sem se esquecer do coletivo. Quando optamos pelo individualismo exacerbado, temos a indiferença como regra, temos um caos, no sentido negativo do termo, em que "farinha pouca, meu pirão primeiro" resume esse grau de desumanização que vivemos, em que as pessoas que "arrotam" suas morais, muitas de cunho religioso, principalmente quando falam de aborto, relações homo-afetivas e legalização da maconha, entre outras temas polêmicos, são os mesmos que reivindicam pena de morte, volta da ditadura e tantas outras coisas que em nada têm a ver com a caridade, o amor ao próximo, o não julgar, o perdoar tão propagada pelo cristianismo e que a maioria dessas pessoas reivindicam em dias de culto ou missa. De outro lado, sociedade extremamente coletivizadas tendem a se tornar regimes autoritários. Nos dois casos, apenas uma pequena elite sustentam seus interesses.
Mas as pessoas estão dispostas a abrir mão de sua individualidade se tiverem como ter uma falsa sensação de segurança e puderem consumir cada vez mais e mais. Contraditório, não?
Enfim... A indiferença mata, desumaniza, deprime... E a maior angústia é: o que fazer? Difícil saber quando não se vê uma luz no fim do túnel...