quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Contra a Ignorância!



Mais uma  vez retorno ao blog. Nesse momento, acho fundamental me expressar de forma mais detalhada sobre algumas coisas que tenho refletido e penso em diálogo com a realidade que nos é apresentada.

Como não poderia deixar de ser, a primeira reflexão é sobre a ignorância.

Aqui trato a ignorância como aquilo que ignoramos, que não conhecemos e que, por isso mesmo, quando nos deparamos com esse "desconhecido" (para nós, é claro) devemos buscar informações, confrontar versões sobre aquilo se de fato nos interessamos por isso.

Mas é de se estranhar que vivemos tempos em que não procuramos saber sobre o que nós queremos opinar e ignoramos. Se instaurou uma lógica perversa de que tudo é apenas uma questão de opinião. Portanto, a opinião não precisa estar respaldada em algum estudo próprio ou em leituras de estudos de pessoas que dedicam parte de suas vidas sobre determinado assunto. Vejo esse tipo de posicionamento entre intelectuais, acadêmicos, gente de esquerda e gente de direita. Tudo se resume à fé. E quando falo de fé não estou me referindo àquela que está relacionada às religiões e que, de fato, estão mais associadas à nossa forma de nos religarmos às divindades e/ou espiritualidades e por isso mesmo está no plano do individual. Estou falando de uma fé cega em seu próprio ponto de vista que não precisa ter nenhuma lógica e nem minimamente dialogar com leituras específicas sobre o assunto.

Está certo que às vezes o que é produzido pela academia não possui uma linguagem acessível, mas também não limito o acesso ao conhecimento à academia. Se produz conhecimento em diversos outros espaços, com linguagens diferentes, em muitos casos embasado na experiência de vida de pessoas ou grupos, mas nem isso tem sido respeitado.

Quando um candidato à presidência diz que vai gerar emprego e renda para a população com o objetivo de promover uma melhor qualidade de vida, de nada vale se ele não diz como, se ele não diz o como. No Brasil vivemos uma realidade que a todos olhamos para fora no sentido do que devemos ser, mas não olhamos nossos problemas estruturais e históricos. Não é possível uma sociedade de consumo no Brasil sem romper com o agronegócio (que não gera emprego em grande escala, visto seu processo de automação, robotização) que se organiza voltado para o mercado externo. A agricultura familiar é responsável por cerca de 70% da produção de alimentos que chega às nossas mesas segundo dados do próprio Ministério do Desenvolvimento Agrário (http://www.mda.gov.br/sitemda/noticias/brasil-70-dos-alimentos-que-v%C3%A3o-%C3%A0-mesa-dos-brasileiros-s%C3%A3o-da-agricultura-familiar), mas o investimento e as propostas da maioria dos candidatos aponta para o aumento de investimento no agronegócio. Nem tampouco é possível se desenvolver economicamente a partir do capital financeiro, rentista, que não precisa de circulação de mercadoria para garantir a obtenção de lucros e dividendos e não está acessível à todos e todas. Portanto, somente se confrontando com esses e outros setores é possível transformar a economia brasileira em uma economia capitalista.

E é aqui que entra mais um ponto: isso não é possível de ser modificado pela via eleitoral. Apesar de todos os casos de escândalos envolvendo o chamado "Centrão", eles continuaram compondo a maioria na Câmara após as eleições e continuaram destruindo nossa economia e massacrando nosso povo para a garantia de seus privilégios.

E é esse Centrão que já declarou apoio ao seu ilustre (e não menos corrupto) membro Jair Bolsonaro. E por falar no tinhoso, tem sido uma prática de seu eleitorado se posicionar dessa forma. Não é possível se estabelecer um diálogo a partir de informações que seus eleitores ignoram. Já ouvi de tudo: de que tudo era fake news até (de um professor universitário) que os livros estão errados porque os livros são apenas as opiniões de quem os escreve. Esqueceu-se do acúmulo de séculos de metodologias de pesquisas científicas em todas as áreas, do conhecimento acumulado nesse período (mesmo que não concordemos com tudo e muita coisa ruim também tenha sido produzido, não significa que não existam produções), esqueceu-se de fatos.

É comum se negar a ditadura. Diante de uma matéria do El País, em que o historiador Daniel Arão nega a interpretação que o juíz Dias Toffoli dá a sua tese sobre a ditadura (Toffoli, a partir da leitura de Arão, havia dito que preferia o termo "Movimento de 64" a Golpe de 1964) diversos historiadores também negaram o ocorrido. Se conhecessem direito a História, poderiam entender que eles são o que negam ser. Não é possível negar os fatos históricos fartamente documentados, mas interpretá-los sim. E interpretar significa o seguinte: A pessoas pode dizer que concorda com a ditadura, com a tortura, com o assassinato de opositores, mas não dizer que não houve ditadura. Você pode dizer que acha que homens e mulheres devem ter um único comportamento padronizado, ou seja, que você é conservador e retrógrado, mas não falar em "ideologia de gênero" sem compreender o que são os estudos de relações de gênero e sua produção. Você pode dizer que não deve nada porque não escravizou ninguém e se assumir como racista, mas não negar que o Estado brasileiro deve uma reparação histórica diante de seus erros que ainda são vistos na sociedade de hoje. O racismo não é invenção minha nem da esquerda, nem tampouco a homofobia, o machismo, o feminicídio e nem tampouco as classes sociais.

Portanto, acho que devemos parar e pensar sobre isso. Eu acredito que podemos minimamente nos informar sobre temas diversos, não é uma coisa que deve ser exclusividade de estudantes, professores e um pequeno grupo de intelectuais. Acredito que saber das coisas, se informar e contrainformar e formular sobre diversos temas é necessário para se viver uma cidadania plena e para romper com as correntes que ainda nos prendem à caverna, lugar de onde apenas vemos imagens desfiguradas e acreditamos que representam a realidade apenas porque não vemos além do que nos é permitido.

Estudemos mais, valorizemos os estudos, a leitura e o pensamento livre...

Socialismo contra a barbárie!!

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